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Entrevista com Marcos Abrahão

01/01/2008 08:24:31

Flávio Azevedo

Conhecido pela sua forte personalidade, o deputado estadual Marcos Abrahão (PSL), de 45 anos, é o entrevistado do Folha da Terra nessa semana. Policial Militar, casado e pai de dois filhos, Abrahão recebeu a reportagem em sua residência, no bairro Cidade Nova, onde falou sobre a sua atuação na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), como foi o seu conturbado primeiro mandato e sua atuação nos municípios vizinhos de Silva Jardim e Tanguá. Afirmando que se for candidato, não fará acordo com ninguém, “porque nenhum desses candidatos por aí tem competência para compor comigo”, Abrahão também criticou a postura política dos prefeitos de Rio Bonito nos últimos 20 anos, que segundo ele “realizaram administrações medíocres”. De acordo com o deputado, “a Câmara Municipal de Vereadores precisa de uma profunda renovação”. O deputado anunciou que Rio Bonito ganhará um posto para confecção de Carteira Nacional de Habilitação e que o governador Sérgio Cabral prometeu entregar a Delegacia Legal de Rio Bonito, em um ano.

Folha da Terra – Teoricamente, Rio Bonito está em uma situação política bem favorável, pois agora conta com representantes no governo federal (Solange Almeida) e estadual (Marcos Abrahão). Como o senhor analisa isso?
Marcos Abrahão – No dia 7 de maio, durante a reunião solene da Câmara Municipal de Vereadores, eu disse que nós não temos mais o direito de errar. Os erros devem fazer parte do passado. Devemos concentrar nossos esforços para alcançarmos o desenvolvimento não só de Rio Bonito, mas de toda região. Não existe crescimento só para Rio Bonito, se não trouxermos juntos os demais municípios da região. O desenvolvimento só virá quando todos partilharem desse pensamento. Espero que cada um faça a sua parte. Eu tenho feito a minha.

FT – Como o senhor avalia o início de mandato do governador Sérgio Cabral? O senhor faz parte do grupo do governador?
MA – Todo princípio de governo é muito difícil. O orçamento deixado pelo governo passado foi muito apertado para ele trabalhar. Mas o governador tem se posicionado bem. Na segurança, por exemplo, sua postura tem sido íntegra e bastante convicta daquilo que ele quer. O governador conhece as deficiências do Estado e sei que ele atuará da mesma forma nas áreas de saúde, educação etc. É esperar e dar a oportunidade para que no próximo ano, com o orçamento certo, ele desenvolva o seu trabalho para que o Rio de Janeiro volte a brilhar. Nós estamos na Alerj apoiando e ajudando para que ele tenha sucesso em seus planos.

FT – O governo do estado tem duas importantes obras paralisadas na cidade, desde o governo Rosinha: a Delegacia Legal e as 100 casas populares em Boa Esperanças. Como integrante da base de apoio ao governo, o que o senhor tem a dizer sobre isso?
MA – As obras são do governo passado e eu sabia que não iam acontecer. A Delegacia Legal ficou travada em uma briga política. Eu ainda era vereador quando trouxe a Casa do Futuro para a cidade. O Executivo da época quis mostrar que um vereador não podia trazer um benefício para Rio Bonito, sem ter uma resposta, e tentou trazer a Delegacia Legal aos trancos e barrancos. Não deu certo. Estou empenhado para solucionar esse problema e o governador já me prometeu que até o meio do próximo ano ela estará funcionando. As casas populares são uma coisa a ser estudada para o próximo orçamento. Não é fácil, mas vamos ver agora no fim do ano, na hora de fazer as emendas orçamentárias, o que eu posso fazer por esse projeto.

FT – A direção do Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) está construindo um CTI. Mas para funcionar sem dar prejuízo, o CTI deve ser credenciado junto aos governos estadual ou federal. Como o senhor pode colaborar para que esse credenciamento seja concretizado? O senhor já está trabalhando nesse sentido?
MA – O presidente do hospital está de parabéns e vem desenvolvendo um bom trabalho. Agora, as pessoas precisam parar de criticar o hospital e começar a ajudar. O que acontece é uma hipocrisia. Um monte de vereador que fica na porta do hospital mendigando e fazendo politicagem. Os vereadores não foram eleitos para ficarem na porta do hospital perturbando, mas sim, para fiscalizar o erário público. Ficam também reclamando das atitudes do prefeito, mas por serem covardes e omissos não fazem nada. A população também tem que parar de reclamar. O sujeito chega ao hospital e já quer ser atendido! É preciso saber que já existem pessoas lá dentro sendo atendidas. A postura tem que ser a seguinte: ao invés de perguntar ‘o que o hospital vai fazer por mim?’, vamos perguntar: ‘o que eu posso fazer pelo hospital?’. Se cada um fizer sua parte e ajudar, teremos um hospital de excelência. Essa idéia de que vereador, prefeito e deputado mandam no hospital tem que acabar. Precisamos nos ausentar da porta do hospital e vamos nos fazer presente junto à administração. Doando e apelando para que a sociedade ajude. Tem muita gente querendo mandar e poucas querendo ajudar.

FT – Enquanto o senhor era vereador, seu nome era um dos cogitados para assumir a prefeitura da cidade. Mas antes, o senhor decidiu-se pela Alerj, o que alguns classificaram como precipitação. Qual a sua opinião?
MA - Não concordo. Sou deputado já há dois mandatos. O que acontece é que eu não sou covarde. Covardes são aqueles que ficam choramingando dizendo que não podem fazer nada. Eu, pelo contrário, tenho garra, coragem, determinação e sou apaixonado pelo meu município, por isso, entrei de cabeça na política. Eu fiz o que todas as pessoas de bem precisam fazer, se envolver na política. Por que enquanto eles ficarem de fora, a política fica na mão de pessoas ruins. Eu cansei de esperar pelos outros e lancei o meu nome para tentar fazer alguma coisa. Porque a política da nossa região está há mais de 20 anos na mão de mafiosos que se acham deuses. Quando eu fui candidato a prefeito e não me permitiram disputar, eu fiz uma camisa com o seguinte dizer: pense. Isso ainda está valendo. Precisamos nos unir para tirar a política das mãos dessas pessoas.

FT – No seu primeiro mandato de deputado o senhor enfrentou a acusação de estar envolvido na morte do deputado Valdecir Paiva de Jesus. Qual a sua versão sobre esse fato?
MA – Logo depois a verdade apareceu de forma clara. O massacre que eu sofri foi muito grande e deixou marcas. Infelizmente o espaço contando a verdade não foi o mesmo da acusação. Mas eu não me deixo abater. A prova disso é que na segunda eleição, eu fui reeleito com 198% de votos a mais do que na primeira eleição. É muito mais fácil falar que eu sou bandido, marginal, do que apresentar propostas sérias.

FT – Nesse seu segundo mandato, com mais tranqüilidade, que tipo de ações em prol do desenvolvimento, Rio Bonito e região podem esperar do senhor?
MA - No primeiro mandato eu sofri muito, o próprio governo suspeitava de mim e eu era da oposição. Mas quando ficou esclarecido que eu era uma vítima, a própria governadora me convidou para fazer parte do seu grupo e as coisas começaram a mudar, mas era final de mandato e pouco pude fazer. Agora, porém, é diferente. Temos força política. Veja só: estamos trazendo para Rio Bonito, um posto de confecção de Carteira de Motorista, para que o nosso munícipe não precise mais se deslocar para Araruama para tirar sua carteira. Poderá ser inaugurado em 30 dias. O Detran está funcionando muito bem, a Inspetoria Estadual de Fazenda, que ia embora, conseguimos que ficasse, tenho até um documento dos contadores da cidade, agradecendo por essa realização. Estamos também lutando para trazer de volta a Coordenadoria de Ensino e com o apoio do governo do Estado, vamos recuperar outros órgãos que a cidade perdeu.

FT – Embora o senhor esteja mais tranqüilo, recentemente o seu nome esteve associado a máfia dos bicheiros e caça-níqueis. Qual a sua versão para essa história?
MA - Eu realmente conheço o Capitão Guimarães, tenho um relacionamento de amizade com ele e todos os outros. Passo o carnaval na apoteose com a minha família, porque ele sempre me dá um camarote. A propósito, como deputado estadual eu tenho que conhecer o Presidente da Liga de Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Não tenho o que esconder. Agora, a vida pessoal deles não me diz respeito e não me interessa.

FT – O senhor não acha que estar ligado com pessoas de histórico duvidoso pode prejudicar sua imagem?
MA – Eu não sei. Você conhece todo mundo que você se relaciona? Você sabe da vida de cada pessoa que você conhece? Você não pode atestar idoneidade. Acredito que não, porque já investigaram minha vida toda anteriormente e não encontraram nada. Minhas amizades são um problema pessoal meu. Eu posso falar de mim, dos outros não.

FT – Qual o seu pensamento sobre a legalização dos bingos e do jogo de bicho?
MA – Isso é atribuição do governo federal e eu sou deputado estadual. Se o Rio de Janeiro sozinho pudesse legalizar, eu votaria a favor. Já tem tanto jogo, que mais um ou menos um não faria diferença. Mas se tivesse que votar uma Lei que proibisse todos os jogos, eu também votaria a favor. O que não pode é ficar tendo dois pesos e duas medidas.

FT – O ex-vice-prefeito Anselmo Ximenes confirmou que houve um acordo entre ele e o senhor, onde em troca do apoio dele à sua candidatura a Alerj, o senhor o apoiaria numa suposta candidatura dele à prefeitura. Como está essa negociação?
MA - Apesar de já termos estado em lados opostos, o Dr. Anselmo é meu amigo particular. Só ele pode dizer se é candidato, eu só tenho que aguardar. Se ele for candidato terá o meu apoio. Ele colocou que não seria candidato, mas eu acho que é prematuro, porque tem muita coisa para acontecer ainda.

FT – Como o senhor avalia a administração do prefeito José Luiz Alves Antunes?
MA – Eu não posso avaliar o que não tenho visto. Eu li uma entrevista do Secretário de Obras dizendo que o prefeito gosta de grandes obras, mas eu não vi nenhuma. A grande obra do prefeito até agora foi quebrar a calçada da outra administração e fazer parquinho. O prefeito realmente tem que fazer calçamento, praça e calçada. Mas isso é uma administração medíocre, qualquer um faz isso. Tanto é, que José Luiz está fazendo. Qualquer um faz escola, Aires Abdala fez. Eu quero ver é trazer desenvolvimento para o nosso município. Fazer o que Bidinho, Aires, Mandiocão e Solange fizeram é mediocridade. Ai de Rio Bonito se não fossem os grandes empresários. A cidade só cresceu por causa dos seus empresários e comerciantes, que mesmo sofrendo, continuam em Rio Bonito. Esses são os verdadeiros administradores de nossa cidade, porque prefeito nós não tivemos. Eu quero ver gerar emprego, cuidar da saúde, da educação, da segurança, etc. Desafio qualquer um deles a um debate aberto. É o que está faltando. Os candidatos realizarem um debate com a presença da população. Chega desse negócio de sair pela rua carregando boi, sentado em lombo de cavalo, andando em cima de carro, porque Rio Bonito não é mais interior, é uma cidade metropolitana!

FT – O senhor é pré-candidato a prefeito de Rio Bonito?
MA – Se a população quiser estarei a disposição para por em prática a nossa sede de trabalhar, levando a sério a administração do município. O que não pode são esses candidatos concederem entrevistas com medo de falar. Isso é hipocrisia. Precisamos falar o que sentimos. Se vai ter voto ou não é outra história. Peço também que os candidatos saibam ler e escrever, para que possamos ter candidatos que produzam um debate a altura de Rio Bonito. Não podemos mais admitir que nossos governantes sejam analfabetos e semi-analfabetos. É bom saber, que tem gente que serve para ser nosso amigo, mas não para ser governante.

FT – Em caso de um convite, existe alguma possibilidade do senhor compor com o prefeito José Luiz na eleição do ano que vem?
MA -Nenhuma possibilidade. Não tem acordo com José Luiz, com Aires Abdalla, com a deputada Solange, nem com nenhum puxa-saco ou marionete que venha ser indicado por Paulo Mello e Solange, porque eu acho todos incompetentes. Nenhum deles tem condição de trazer benefício para Rio Bonito. Além do mais, todos são sanguessugas que já estão aí. Prefiro abandonar a carreira política a fazer acordo com esses nomes. Eu quero parceria é com aqueles empresários que sempre administraram a nossa cidade, não são valorizados e muitas das vezes são até hostilizados.

FT – O vice-prefeito Aires Abdalla pretende ser candidato a prefeito nas próximas eleições. A confirmação dessa candidatura dependeria de um nome que, além de votos, tivesse recursos financeiros para pagar a campanha. Como o senhor vê essa candidatura?
MA – Uma lástima para Rio Bonito, é achar que o povo é idiota. É subestimar a inteligência das pessoas, porque ele foi um zero a esquerda. Isso é vergonhoso e não tenho medo de falar. Ele disse que fez uma grande obra, que é o colégio municipal. Que medíocre!

FT – O grupo da deputada Solange Almeida parece estar dividido. Embora o vereador Reis tenha sido anunciado como o pré-candidato a prefeito, uma corrente dentro do próprio grupo tem preferência pelo nome da vereadora Rita de Cássia. Como um eleitor comum, qual dos dois receberia o seu voto, e por quê?
MA – Eu votaria em branco, porque nenhum dos dois serve. Uma pelo menos é professora, o outro nem sei. Se fossem apenas eles dois, eu iria para a rua pregar o voto nulo. Porque quando não estamos satisfeitos com os candidatos que aparecem, não devemos votar no menos pior, devemos é anular o voto. Porque se todo mundo fizer isso, novas eleições serão convocadas e outros nomes escolhidos. Aqueles que foram rejeitados estariam proibidos de participar.

FT – Parte do eleitorado Riobonitense fica reticente quanto ao senhor ser prefeito da cidade, devido a sua personalidade forte. Alguns argumentam que senhor resolveria as diferenças políticas com truculência e ameaças. Como o senhor responde essas acusações?
MA – Me tragam alguém que eu tenha prejudicado ou alguém que eu tenha dado um tapa. Isso é argumento daqueles que não tem o que falar de mim. Então estão com medo e começam a dizer que eu sou truculento. Não é assim. Eu sou verdadeiro, tenho personalidade e falo aquilo que sinto. Se o que eu disse vai agradar ou não, o problema não é meu. Eu não sou ‘Maria vai com as outras’. Por isso, é que tem candidato por aí, indicado por deputado estadual. Vai fazer o que ele quiser, é uma marionete. Não sabem nem se comportar. Ficam até copiando slogan um do outro. São pessoas sem personalidade, por isso, não são dignas de confiança. Enquanto Rio Bonito estiver servindo de cabide de emprego para meia dúzia que ficam andando de EcoSport, recebendo sem trabalhar, a cidade vai ficar assim, faltando emprego, saúde, educação.

FT – A queda de braço entre é a oposição e o governo municipal ficou muito nítida quando a oposição não aprovou a construção do matadouro municipal, por entender que existem outras prioridades. Qual a sua opinião sobre isso?
MA – Eu acho que o matadouro é mais uma obra medíocre, mas que façam! Porém, se existem outras prioridades, porque os vereadores não trabalharam isso durante os quatro anos de mandato? Porque só agora estão se preocupando, em época de período eleitoral? Outro complicador: por que desapropriar a Nacional Diesel para fazer prefeitura? Qual o ganho disso? Porque não deixar aquela área ir a leilão, para ser comprada por uma empresa, que construísse ali uma fábrica ou que instalasse ali um pool de empresas? O dinheiro gasto ali, poderia desapropriar terrenos em outros lugares, e aquele local poderia sediar uma empresa de grande porte que gerasse emprego e desenvolvimento. Estão gastando mais de R$ 2 milhões e até agora nada. Se for para acabar com os aluguéis, que crie as secretarias em outro lugar. A verdade é que os vereadores têm que trabalhar. Eles não estão trabalhando, e quando isso acontece, tem que mudar a Câmara Municipal. A população precisa estar atenta para isso e não votar mais em quem não trabalha. Eu posso dizer isso porque não tenho rabo preso com vereador.

FT – Qual o seu relacionamento com o prefeito Carlos Pereira, de Tanguá, e com o prefeito Augusto Tinoco, de Silva Jardim? Como o senhor tem atuado nesses municípios?
MA – O meu relacionamento com o prefeito de Tanguá é maravilhoso, porque ao contrário de outros prefeitos, ele aceita ajuda, por isso, estou sempre presente em Tanguá. Na minha cidade acontece o inverso. Já estive com o atual prefeito três vezes, colocando o meu gabinete a disposição para ajudar a alcançar benefícios para a cidade, mas nunca recebi a visita nem do prefeito, nem dos vereadores. Precisamos parar de fazer política e administrar o município. Quero deixar uma pergunta em aberto: de quem é a cidade de Rio Bonito hoje? É dos munícipes ou de meia dúzia de políticos? Eu acho que a cidade pertence a uma meia dúzia de politiqueiros que deveriam ganhar uma passagem só de ida para a Faixa de Gaza. Em Silva Jardim, a cidade está abandonada. Já fui lá algumas vezes e nunca encontrei o prefeito. A coisa lá está assim: o último a sair apague a luz.


FT – Como o senhor analisa o atual momento político do país, onde todos os dias surgem escândalos e agora com envolvimento até do judiciário.
MA – Esses fatos não devem nos afastar da política. Vamos aproveitar o momento, nos aprofundar no assunto, procurar saber qual é a verdade, fazer um juízo de valor e tomar a nossa decisão. Esses episódios são importantes, porque recentemente isso não acontecia. Tem gente renunciando, aliás, quando o político renuncia é sinal que ele é culpado. Eu, quando sofri acusações, não renunciei, porque tinha certeza da minha inocência. O país está mudando e essa mudança tem que alcançar as urnas. Não podemos ter medo do novo, temos que ter medo do passado, porque se o presente não é bom é porque o passado foi ruim. Então precisamos mudar o passado para acertar o futuro. O medo de perseguições políticas está ficando para trás. É bom saber, que políticos que perseguem as pessoas e usam a política nordestina de dar comida em troca do voto é coisa do passado. Políticos com esse perfil não servem para ocupar o Legislativo e o Executivo.

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