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Entrevista com Solange Almeida

09/07/2008 15:20:07

Entrevista com Solange Almeida

Gaúcha de Porto Alegre, a veterinária Solange Pereira de Almeida (PMDB) possui um histórico de 20 anos de vida pública. Foi eleita deputada federal com 69.438 votos, em 2006. Antes de chegar ao Congresso Nacional, ela foi vereadora em Rio Bonito por dois mandatos consecutivos (1989/1996), e também por dois mandatos seguidos foi prefeita da cidade (1997-2004). Aos 47 anos, a parlamentar é a vice na chapa do vereador Reginaldo Ferreira Dutra, o Reis (PR), um dos pré-candidatos à prefeitura de Rio Bonito. No último domingo (29), Solange participou do programa “O Tempo Rio Bonito”, da rádio Sambê FM (105,9), apresentado pelo jornalista Flávio Azevedo. Durante o programa, Solange, além de responder as críticas feitas pelos adversários, disse que se perder o recurso contra a decisão do TRE, que cassou o seu mandato no ano passado, não ficará inelegível.

Flávio Azevedo – Durante a convenção do deputado Marcos Abrahão (PSL) foi dito que em caso de vitória de Reis, a senhora vai nomear pessoas de quase todo o Estado do Rio de Janeiro, menos de Rio Bonito, para conseguir a reeleição. Isso é possível?
Solange Almeida: O homem é o seu espelho e enxerga no outro o que vê nele. Então, eu já estou preocupada achando que o nosso deputado está pensando em pegar a prefeitura e colocar pessoas de todo o Estado nela, porque eu nem cogito isso. Eu fui eleita deputada federal com quase 70 mil votos. E tenham certeza: esses votos foram conquistados no carinho. Sem ameaçar ninguém. Aqueles que não têm o que mostrar fazem acusações e tentam denegrir a imagem dos outros.

FA – Comenta-se que enquanto o deputado Marcos Abrahão conseguiu trazer para Rio Bonito a Ciretran, a Coordenadoria de Educação Serrana V e a permanência da Agência da Inspetoria Estadual, que ia para Itaboraí, a senhora, que faz parte da base governista (PMDB), em Brasília, trouxe apenas alguns “trocados” para o Hospital Regional Darcy Vargas. Qual a sua opinião sobre isso?
SA: Esse é exatamente um dos motivos pelo qual eu venho candidata a vice. Porque a gente só consegue trazer verbas federais se for via prefeitura. Só para lembrar, nós conseguimos R$ 1.238 mil para o hospital... Se isso é “trocado” eu não sei. Agora, eu não pedi cargo no governo federal para minha família. Na verdade, a gente espera mesmo que o deputado trabalhe. Se ele está conseguindo algumas coisas, que continue. Vamos torcer para que ele mostre a que veio, porque Rio Bonito pode perder um deputado. Que ele não traga apenas cargos para ele e sua família, mas que traga obras, saúde e ajude a população. Mas ajudar não é apenas colocar gasolina no carro dos outros. Em cinco de outubro o povo vai saber julgar.

FA – O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) votou pela cassação do seu mandato no ano passado. A senhora recorreu no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Qual é a sua situação hoje?
SA: É bom esclarecer que se eu perder o recurso no TSE, eu não ficarei inelegível. Agora, eu não vejo nenhuma possibilidade de perder. Porque dentro desse processo não existe alguém que diga que comprou ou que vendeu. No TRE, os votos que foram favoráveis a mim, mostram falhas no processo. Mas infelizmente, o que se diz é que o desembargador Mota Moraes teria um filho, que é assessor em Rio das Ostras e teria votado baseado nesses interesses.

FA – Algumas pessoas comentam que essa situação foi armada para prejudicar o deputado estadual Alcebíades Sabino (PSC), que vai disputar a prefeitura de Rio das Ostras. A senhora, por fazer essa dobradinha com ele, teria sido prejudicada indiretamente. Isso pode ser verdade?
SA: As pessoas comentam isso e eu acredito. Porque veja bem, no santinho que foi apreendido, não tinha apenas Solange e Sabino. Tinha também Dorneles e Sérgio Cabral, e eles também foram eleitos. Então é uma sucessão de erros sem fundamento. Estou tranqüila e confio em Deus. Eu não me preocupo, porque eu não nasci deputada e não vou morrer deputada. Além disso, se perder no TSE, ainda posso recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).

FA – O secretário Municipal de Obras Ronen Antunes foi multado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) por irregularidades na coleta do lixo. Contudo, em 16 de maio desse ano, a senhora e sua equipe de licitação receberam multa do mesmo tribunal por irregularidades na compra de óculos da empresa Unijóias Óticas e Presentes, no ano de 2003. O que aconteceu?
SA: O prefeito hoje pode delegar muita coisa aos seus assessores e secretários. Quando você homologa uma licitação, isso é feito em cima do parecer do departamento jurídico, da Controladoria etc. Às vezes acontecem erros processuais, como faltar uma assinatura... E isso rende multas no tribunal. Quem não enfrenta esse tipo de problema é porque nunca foi prefeito. Mas tenham certeza que não foi má fé, e isso pode ser provado na Justiça. Eu tenho a consciência tranqüila e ando de cabeça erguida.

FA – Embora o atual governo seja criticado por dar pequenos aumentos ao funcionalismo, a senhora é lembrada por oito anos de gestão sem nenhum reajuste. O funcionalismo acredita que em caso de vitória de Reis essa situação vai se repetir. O que a senhora tem a dizer sobre isso?
SA: No último ano de governo eu incorporei ao salário um abono que significou 30% de aumento. Mas a culpa disso é da Lei de Responsabilidade Fiscal, que prejudica muito o funcionalismo público. A prefeitura não faz os serviços sem gente e dar aumento é muito difícil. Mas é bom lembrar, que no meu governo nós fizemos dois concursos públicos, os profissionais da educação, inclusive merendeiras, serventes e inspetores de aluno passaram a ter um Plano de Cargos e Salários. Sobre Reis, ele nunca foi prefeito, mas quando foi presidente da Câmara de Vereadores ele valorizou os funcionários da Casa, conseguiu plano de saúde etc. No meu governo, porém, o funcionário merecedor era valorizado com horas extras, e não era perseguido.

FA – Embora a saúde seja a sua principal bandeira, quando a senhora era prefeita, o repasse municipal para o HRDV era inferior ao que é repassado pela atual administração. Em caso de vitória de Reis, como será essa relação com a entidade?
SA: Eu quero ajudar na saúde, porque é um setor que eu gosto e tenho conhecimento. Já até conversamos com a direção do HRDV. Nós vamos construir nosso hospital com emergência e para atender pacientes de baixa e média complexidade. Já o HRDV atenderia os pacientes de alta complexidade de Rio Bonito e região. Para isso, a unidade receberia uma verba extra-teto. Ou seja, um dinheiro fora dos recursos que o município tem direito a receber. O HRDV seria uma referência em neurologia, ortopedia e teria um Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), que é um centro de tratamento de pacientes com câncer fora do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Isso é possível e existe recurso para isso.

FA – Qual o destino dos funcionários contratados em caso de vitória de Reis, sobretudo os que atuam em setores como o Programa de Saúde da Família (PSF) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que recebem treinamento para desempenhar suas funções?
SA: Durante a minha gestão, muitos funcionários que nós valorizamos não eram meus eleitores. Mas eles sempre foram profissionais. Quem é bom profissional não tem com o que se preocupar. O que nós queremos é que esses profissionais trabalhem com dignidade.

FA – Na época da duplicação da BR-101, o projeto inicial deixaria isolado o bairro da Praça Cruzeiro. A senhora liderou com bravura o povo numa manifestação que resultou na revisão do projeto. Contudo, quase na mesma época, a serviço da Via Lagos, a Justiça fechou uma estrada centenária entre as localidades de Mineiros a Jacundá, para impedir que os motoristas fugissem do pedágio. Muita gente acha que a senhora não lutou contra a concessionária com o mesmo empenho do caso da BR-101. Qual a sua versão sobre isso?
SA: É uma estrada tão antiga, que só a linha de ônibus existia há 20 anos. Mas num sábado, a Via Lagos abriu um fosso na entrada de Mineiros. Nós tapamos o fosso. No outro dia estávamos no Fórum, mas a juíza determinou que a estrada fosse fechada com uma porteira. Na terça-feira seguinte, véspera de finados, com uma turma e faixas com os dizeres ‘Via Ladra’ fizemos uma manifestação e a população arrancou a porteira. Aí ficou aquela situação: a concessionária fechava a estrada e as pessoas abriam. No dia 15 de novembro, também feriado, fizemos outra manifestação... Mas nesse dia tinha mais policiais do que manifestantes. Vieram dois ônibus da Polícia Militar cheios de policiais. Aí não teve jeito! Para complicar a situação, a Justiça deu ganho de causa para a concessionária, que é muito poderosa. Tenho certeza que esses críticos não participaram dessa nossa luta naquela oportunidade.

FA – Muita gente critica o deputado Paulo Melo (PMDB), por não usar seu prestígio político para tentar reparar essa situação. Como a senhora vê a postura do deputado?
SA: O problema é que existe um contrato. Além disso, na ocasião que foi feita essa licitação, a empresa vitoriosa seria aquela que pagasse mais pelo trecho explorado. Na BR-101 foi exatamente o contrário. Ganhou a empresa que cobraria o pedágio mais baixo. Aliás, essas empresas têm um departamento jurídico muito forte. Em minha opinião, o asfaltamento da estrada que liga a localidade da Prainha com Sampaio Correia seria uma grande alternativa. Mas infelizmente, essa benfeitoria poderia levar a estrada a ser utilizada como rota de fuga por bandidos e também atrairia muitos caminhões. Aliás, essa questão do transporte no Brasil precisa ser revista com urgência.

FA – Há cerca de oito meses, a FOLHA DA TERRA fez uma enquete sobre a demolição do banheiro público da Praça Fonseca Portela, no Centro. Um dos participantes criticou a Câmara de Vereadores da época, por não ter fiscalizado a obra. Ao ler essa crítica um ex-vereador que tinha mandato na época em que o banheiro foi construído disse o seguinte: “tudo que a prefeita enviava à Câmara nós aprovávamos... Ela dava tudo para nós”. O que significa dar tudo?
SA: É bom saber que um projeto de obra não vai a Câmara. O que vai é o orçamento da obra. Assim como a idéia de derrubar o banheiro público não tem que ir a Câmara. Com relação a esse “dar tudo”, eu quero dizer que eu atendia os vereadores sim, mas do mesmo jeito que eu atendo a população. Como eu atendia um deputado, um prefeito, um juiz... É meu jeito. Eu tento conciliar as pessoas e atender as suas necessidades. Eu acredito que um não dito com carinho, é mais bem aceito do que um sim dito com rispidez. Precisamos ser sinceros. Não é ficar falando “vamos ver... vamos ver...”, e nunca atender as pessoas. O vereador tem projetos, sonhos, ele atende as pessoas e precisamos recebê-lo com respeito.

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