21/07/2008 10:49:13
Flávio Azevedo
Aos 57 anos, o engenheiro civil e professor Adílio José Alves (PT) é o candidato a vice-prefeito na chapa do deputado estadual Marcos Abrahão (PSL). Empresário no ramo da construção civil, Adílio foi vereador de Rio Bonito, em 1976. Ele passou cerca de 10 anos no Estado de Rondônia, onde ocupou a Secretaria Municipal de Obras no município de Rolim de Moura em duas administrações. Também atuou no Departamento de Estradas de Rodagem daquele Estado. Adílio é casado com Dalvaci Dutra Viana Alves, com quem tem uma filha. Candidato a prefeito em 2000, a vice-prefeito em 2004, ele participa pela terceira vez de uma disputa usando o mesmo discurso de “renovação e mudança”. Em entrevista exclusiva ao repórter Flávio Azevedo, no programa “O Tempo em Rio Bonito”, da Rádio Sambê FM (105,9), ele criticou a atual administração municipal e a anterior. Adílio acredita que “o povo está insatisfeito com todos esses anos de inércia de Rio Bonito”.
Flávio Azevedo – Fale um pouco sobre o que senhor fez em sua vida profissional e na vida pública?
Adílio José Alves – Eu sempre gostei de esporte. Dizem que eu fui um bom jogador de futebol, mas eu devo muito aos companheiros que jogaram comigo. Atuei pelo Cruzeiro, Esperança, Rio Bonito Atlético Clube. E os Jogos da Primavera? Infelizmente não existe mais. Cheguei a treinar no Bangu, com Jorge Mendonça e no Fluminense, do técnico Telê Santana. Mas eu preferi estudar e me formei em engenheiro. Fui vereador em 1976 e participei como secretário municipal de Obras, do governo de Maria Luisa, que substituiu Aires Abdalla, que havia sido cassado. O período foi curto, mas nesse curto espaço de tempo ainda conseguimos realizar 33 obras.
FA – Depois de se formar em engenharia, o senhor teve oportunidade de trabalhar fora do Estado. Como foi isso?
AJA – Passei 10 anos em Rondônia. Trabalhei no município de Rolim de Moura, onde eu fui secretário de Obras dos prefeitos Adegildo Aristides Ferreira e Valdir Raupp, que atualmente é senador. Depois disso, fiz parte da diretoria do Departamento de Estradas de Rodagem de Rondônia e ocupei várias funções. Até que em 1990 voltei com muita experiência.
FA – Em sua opinião, qual é o papel do vice-prefeito? A impressão que se tem é que às vezes ele pensa que é prefeito.
AJA – A proposta de Marcos Abrahão e Adílio é de um governo participativo, onde a comunidade decide o que é melhor. O papel do vice-prefeito não é esperar que o prefeito seja cassado para assumir o seu lugar ou andar de carro preto por aí. Ele tem que ser atuante e ser o braço direito do chefe do Executivo, visitando os bairros e buscando a opinião das pessoas. Precisamos parar com as disputas partidárias, porque depois das eleições somos todos riobonitenses. Marcos Abrahão diz que eu serei o seu secretário de Obras. Acho que eu poderei colaborar com a minha experiência.
FA – O quadro político em Rio Bonito está dividido em três partes. O grupo do prefeito José Luiz Antunes (DEM), que tenta a reeleição, o grupo da deputada federal Solange Almeida (PMDB), que apóia a candidatura a prefeito do vereador Reginaldo Dutra, o Reis (PR) e o grupo do deputado estadual Marcos Abrahão (PSL), que também luta pelo Executivo. Como o senhor vê esse momento político?
AJA – Em 2000 fui candidato a prefeito e concorriam comigo, Solange Almeida, que era a prefeita, Aires Abdalla e José Luiz Mandiocão, que mostrava uma fita “para as pessoas verem o que fez Abdalla”. Na época, o governador Garotinho esteve aqui. Do palanque de José Luiz ele disse: “Mandiocão, te chamam de peão, mas é melhor ser peão do que ladrão”. Em 2004 eu apoiei o falecido Puí na sua candidatura a prefeito. E, para a minha surpresa, José Luiz e Aires estavam juntos dizendo que era hora de união, que a cidade teria dois prefeitos. Bem, eu classifiquei aquela união como hipocrisia e cinismo. E eles estavam mentindo, porque há poucos meses, Abdalla lançou uma candidatura a prefeito argumentando que José Luiz faltou com a palavra com ele. Acho que faltar com a palavra é mentir. Eles fazem assim. Unem-se com A, B e C para se perpetuarem no poder. A candidatura de Solange é estranha, porque ela foi cassada e vai disputar a eleição amparada por um recurso. É um direito que lhe cabe. Aliás, também tem esse direito o prefeito José Luiz, que vai participar do pleito amparado por uma liminar, porque teve as contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), e a Câmara de Vereadores manteve o parecer. Afinal, em caso de vitória ela vai assumir?
FA – Em entrevista ao programa “O Tempo em Rio Bonito”, Reis e Solange disseram que a deputada renuncia a vice-prefeitura e retorna à Brasília.
AJA – Isso é estelionato eleitoral. É mentir para a população. A comunidade já deu duas oportunidades a José Luiz, a Aires Abdalla e a Solange Almeida - Reis é a continuidade de Solange. Nós precisamos experimentar algo novo, que é Marcos Abrahão. O PT percebeu que apoiar os demais seria continuar com o que está aí. Em 2004, Puí e Marcos Abrahão fecharam a campanha eleitoral juntos, na Avenida 7 de Maio. Puí dizia que mudar seria votar em Abrahão, que pedia aos seus eleitores que votassem em Puí. As pesquisas diziam que não venceríamos, mas tentamos avisar o que iria acontecer. O prefeito e o vice fizeram uma falsa aliança, porque quando aconteceu o atentado, ele não saiu da cadeira uma vez sequer, para não deixar o vice assumir. Isso é ter dois prefeitos?
FA – Como o senhor vê a rixa que existe hoje entre o Executivo e o Legislativo?
AJA – O Brasil é um país democrático sustentado pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Esses poderes são independentes. Por isso, eu defendo a saída da Câmara do prédio da Prefeitura. O Legislativo tem que fiscalizar a administração Municipal e o prefeito não tem que ficar brigando com o vereador. Ele tem é que enviar os projetos para eles, que por sua vez, devem avaliar, aprovar ou não. Por outro lado, a comunidade deveria participar das reuniões para fiscalizar o que está acontecendo. O funcionalismo municipal, por exemplo, briga muito pelos seus direitos. Em uma entrevista a ex-prefeita disse que deu 30% de aumento. Eu perguntei ao pessoal do sindicato quando foi isso, e eles disseram que nunca houve esse aumento.
FA – Enquanto o prefeito critica a oposição da Câmara de Vereadores, que segundo ele “é a responsável pelas dificuldades da minha administração”, o deputado estadual Paulo Melo (PMDB) disse na convenção do PR, há cerca de 20 dias, que na verdade “o prefeito não tem interesse em buscar os recursos necessários para o desenvolvimento de Rio Bonito”. Como seria a relação de Marcos Abrahão e Adílio com a Câmara Municipal, com o governo do Estado e com a Alerj?
AJA – Uma relação respeitosa e franca. O que compete a Câmara será decidido por ela e o que for de competência do município será feito pelo prefeito. Pertenço ao PT do governo Lula. O SAMU, por exemplo, é do governo federal e se o prefeito tivesse corrido atrás, poderíamos ter mais ambulâncias. Além disso, a Farmácia Popular e o programa Bolsa Família, que atendeu 2.326 pessoas em Rio Bonito no mês de junho. É pouco, mas esse montante significa cerca de R$ 200 mil na economia local. Em 2004 eu falei com José Luiz: “não me considere um inimigo. Contem comigo”. Mas parece que estão com o rei na barriga. Marcos Abrahão, por exemplo, faz parte da base do governo na Alerj, e o governador Sérgio Cabral tem atendido aos seus pedidos. Através do deputado, Rio Bonito ganhou a Ciretran, a Coordenadoria Estadual de Educação Serrana V, equipamentos para o Hospital Regional Darcy Vargas e a permanência da Inspetoria Estadual de Fazenda.
FA – E as obras da Delegacia Legal (DL)? Elas estão paradas há cerca de seis anos. Enquanto isso, o governador inaugurou a DL de Silva Jardim, um município menor que o nosso. O deputado não está conseguindo buscar essa melhoria, ou o fato do governador ser do PMDB e o prefeito do DEM é o real motivo desse atraso?
AJA – Todos os governantes têm interesse em ajudar. O governador tem atendido Abrahão em tudo que ele pede. Mas não adianta só pedir. Tem que ir lá... Tem que ficar pedindo. Ou seja, tem que estar sempre ao lado do governador. É o que eu digo, acabou a eleição, acabou o partido. O negócio é governar para o povo.
FA – Desde a disputa eleitoral de 2000, o senhor vem falando em renovação, mas o riobonitense é resistente a mudanças. Qualquer cidadão de 35 anos para baixo só viu quatro prefeitos em Rio Bonito, e isso pode continuar acontecendo. Como mudar esse quadro?
AJA – Esse ano será diferente, porque em todo lugar que chego eu percebo que a semente plantada em 2000 e 2004 está crescendo. Isso me lembra da música “Tente Outra Vez”, de Raul Seixas. É assim: “não diga que a canção está perdida, tenha em fé em Deus, tenha fé na vida, tente outra vez”. Acho que a nossa vida é uma canção e o grande desafio da política é renovar. Mas a melodia continua: “Não pense que a cabeça agüenta se você parar”. O povo está insatisfeito com todos esses anos de inércia de Rio Bonito. A música termina assim: “Tente, e não diga que a vitória está perdida, se é de batalhas que se vive a vida... Tente outra vez”! Nós brasileiros não desistimos nunca. Todo o tipo de mentira é usada contra nós, da mesma maneira como fizeram contra o presidente Lula quando buscava a eleição. Lula veio do povo, Marcos e eu também. Estamos pedindo uma oportunidade por apenas quatro anos. Se não der certo coloquem outro em nosso lugar, mas insistir com esses que aí estão é deixar o tempo passar. Eu me lembro da Música “Tempos Modernos”: “Eu vejo a vida melhor no futuro, eu vejo isto por cima do muro de hipocrisia, que insiste em nos rodear”. Ela termina assim: “Hoje o tempo voa amor, escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir e não há tempo que volte... Vamos viver tudo o que há pra viver, vamos nos permitir”. Em 2000 disseram de tudo a meu respeito. Disseram até que eu era ‘laranja’, para ajudar A, B e C. Será? Tenha certeza que isso não aconteceu.
FA – O senhor falou de crescimento, mas o PT é um partido que não consegue se firmar no Rio de Janeiro. Por que isso acontece em sua opinião?
AJA – Eu fui vereador pelo MDB, depois me filiei ao PSB. Em 1992, o professor Ramil chegou a me convidar para ser o seu vice, mas eu fui para o PT porque é um partido onde as decisões são tomadas pelos filiados. Eu sou presidente do diretório municipal, mas se os membros do partido não concordassem com a coligação com Marcos Abrahão, ela não teria acontecido. Governo participativo é isso. Sobre o crescimento do PT, eu não sei por que no Rio de Janeiro ocorre esse fenômeno.
FA – O senhor tem larga experiência na área de infra-estrutura. Quais são os seus projetos para o zoneamento urbano, transporte e o trânsito em Rio Bonito?
AJA – Algumas leis de exploração do solo limitam a ação do prefeito. Penso que elas devem ser modificadas porque são muito antigas. Mas as pessoas que investem nesse setor, como o empresário José Martins, devem ser ouvidas e estimuladas a continuar investindo no município. A área de infra-estrutura exige muitos recursos, mas se retirarmos de Rio Bonito, os ‘aspones’ que vivem da política e impedem o progresso, vamos conseguir uma cidade melhor.
FA – O nome do deputado Marcos Abrahão tem crescido bastante. Mas as pesquisas de opinião mostram que o índice de rejeição do deputado ainda é bem grande. O que fazer para continuar melhorando a imagem do deputado?
AJA – Converse com Marcos Abrahão e tire suas próprias conclusões. Nós temos o costume de julgar as pessoas sem conhecê-las. Muita gente que conversa com Marcos pela primeira vez diz: “eu fazia outra idéia de você”. Eu, apesar de calmo, também tenho minhas revoltas, mas as pessoas de bem se revoltam contra as injustiças. Vou dar um exemplo: dizem que Marcos não gosta de evangélicos, mas ele é casado com uma evangélica. Eu estou ao lado dele por ele ser um lutador, que enfrentou uma série de acusações e injustiças. Eu pergunto: “os outros candidatos não têm rejeição”?
FA – O deputado não esconde que tem relações com pessoas ligadas ao jogo do bicho e a contravenção. Isso não prejudica a imagem de uma pessoa pública, sobretudo em uma cidade mais tradicional como Rio Bonito?
AJA – Veja bem. Há algumas semanas, o jornal FOLHA DA TERRA publicou que a prefeitura fez um aditivo para um contrato de limpeza urbana no valor de R$ 2,8 milhões. Sabemos que por Lei, somente 25% de um contrato pode ser aditivado. Se aditivaram R$ 2,8 milhões para um período de 12 meses, quer dizer que esse valor foi aditivado de um contrato de cerca de R$ 11 milhões. Com mais esses R$ 2,8 milhões, chegamos ao valor de R$ 14 milhões. Dividindo isso em um ano, vamos ter um gasto mensal de cerca de R$ 1,1 milhão para a limpeza urbana. O envolvimento com essas empresas é bom para o município?
FA – Rio Bonito não é uma cidade miserável, mas em encontramos bolsões de pobreza. O combate emergencial para esse quadro é sempre o assistencialismo, que causa dependência no beneficiado. Como mudar esse quadro em definitivo?
AJA – Nós temos em Rio Bonito o projeto Bolsa Família, que é um programa de distribuição de renda. Ele existe para dar ao cidadão o mínimo para sobreviver. Mas a prefeitura, que administra o programa, faz assistencialismo com esse projeto. Eles dão o cartão como se estivessem dando um presente. Hora, não é assim que funciona. Essa distribuição tem que ser clara e honesta. O cara que faz esse serviço não pode se prevalecer disso e sair candidato a vereador. Esses bolsões de pobreza foram criados nessas administrações que não souberam ajudar as pessoas a aumentar sua renda e não deram educação para que pudessem se capacitar profissionalmente. Mas essas pessoas não podem ser marginalizadas. Rio Bonito tem um Condomínio Industrial que deu quantos empregos até hoje? É nossa idéia fazermos outro Condomínio Industrial às margens da BR – 101, no sentido Silva Jardim, e outro no 2º Distrito, em Boa Esperança.
FA – Assim como podemos perder a representação da deputada Solange Almeida, no Congresso Nacional, também poderemos perder a representação do deputado Marcos Abrahão na Alerj, que como o senhor mesmo disse, tem conseguido algumas benfeitorias para Rio Bonito. Como o senhor analisa isso?
AJA – O escritor Paulo Coelho diz que “o sonho é o alimento da alma, como a comida é o alimento do corpo”. E nós temos um sonho. Eu vou dar um exemplo. Depois da minha derrota em 2000, eu fui atrás do sonho de trazer uma faculdade para o município. Então, convidamos o Sindicato dos Profissionais de Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE), a Loja Maçônica Guanabara 4, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), a Associação Comercial de Rio Bonito (Ascirb), a Câmara de Vereadores, a Prefeitura Municipal, os Colégios Rio Bonito e Cenecista Monsenhor Antônio de Souza Gens. A reunião foi na Casa do Futuro. Desse encontro saiu uma comissão para cuidar do assunto. Depois de quinze dias, veio a Rio Bonito o professor Antonio Fontana, um dos diretores da Universidade Federal Fluminense (UFF). Ele nos mostrou o que fazer para conseguirmos a UFF. Outra reunião foi feita no Rotary Clube, e mais uma na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde a ex-prefeita Solange participou. Nessa reunião os professores vieram com duas minutas de convênio. Mas a ex-prefeita disse que “eu não posso assumir essa responsabilidade”! E a UFF foi embora com os cursos de Direito e Ciências Contábeis. É por estar vendo os nossos sonhos irem embora, que Marcos Abrahão está trocando a posição de deputado pela de prefeito, onde ele poderá fazer muito mais por Rio Bonito.
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