27/02/2014 14:13:21
Brasil, um país de loucos!
Flávio Azevedo
Em entrevista concedida a TV Globo, a esposa do cinegrafista Santiago Ilídio Andrade, morto ao ser atingido por um rojão jogado por um manifestante que integra as manifestações contra o aumento das passagens do Rio de Janeiro, disse que “destruíram uma família”. Eu concordo e vou mais adiante. Além de uma família, esse ato destrói o sonho de que devemos nos posicionar contra um Estado, excludente, irresponsável, desigual e que privilegia a corrupção.
Santiago era cinegrafista da TV Bandeirantes e foi atingido no último dia 6 de fevereiro (quinta-feira). Embora a sua morte cerebral tenha sido confirmada nessa segunda-feira (10/02), na entrevista, concedida um dia antes, a sua esposa afirmou que ao visitá-lo no CTI do Hospital Souza Aguiar, no sábado, ela percebeu que “ele não estava mais ali”.
Mais e aí? E aí que os desordeiros e inconscientes conseguem a cada dia fazer com que as pessoas tenham antipatia e aversão aos legítimos movimentos em prol de um Brasil melhor. Eles conseguem fazer as pessoas ficarem enojadas com as manifestações e, sobretudo, que a sociedade almeje a permanência do caos. Afinal, se não houvesse manifestações, a mídia estaria cobrindo outro evento e o cinegrafista ainda estaria no mundo dos vivos.
Enquanto a grande mídia busca os culpados que lhe convém, Arlita Santiago, esposa da vítima, nomeia os reais culpados: OS PAIS. “Acho que esses rapazes que fizeram isso, ELES NÃO TIVERAM, TALVEZ, MÃES QUE NÃO DERAM OS ENSINAMENTOS QUE DEI para os meus filhos. Como é que a gente vai ter paz no mundo se a gente não ensina para os filhos da gente? Então, isso é uma coisa que me deixou muito triste porque ele não merecia, é uma pessoa muito boa. Ele procurava sempre ajudar todos”, disse ela durante a entrevista.
Mas... E quando os pais dão os ensinamentos devidos e a pessoa (jovem ou não) faz uma bobagem atrás da outra? Aliás, por que não sabemos viver em sociedade? Por que não sabemos lutar corretamente pelo que acreditamos? Por que desconhecemos o que é se manifestar? Pois é... Somos vítimas de um mecanismo abstrato e macabro chamado SISTEMA.
De acordo com o fictício Tenente Coronel Nascimento, do filme Tropa de Elite II, “o sistema entrega a mão para salvar o braço... O sistema se reorganiza, articula novos interesses... Cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai resistir! Agora me responde uma coisa: quem você acha que sustenta tudo isso? É... E custa caro... Muito caro! O sistema é muito maior do que eu pensava! Não é a toa que os traficantes, os policiais, os milicianos matam tanta gente nas favelas! Não é a toa que existem as favelas! Não é a toa que acontece tanto escândalo em Brasília, que entra governo e sai governo e a corrupção continua... Para mudar as coisas... Vai demorar muito tempo. O sistema é foda! Ainda vai morrer muito inocente!”.
A verdade é que os inocentes estão morrendo. Santiago Andrade é mais um. E, infelizmente, não é o último. Aliás, além das manifestações terem sido transformadas em espetáculos, os noticiários sobre esse assunto são construídos sob o viés da Comunicação do Grotesco. Então... O que fazer?
Bem, pouca gente lembra – e a grande mídia não focaliza isso – que a principal arma para mudarmos uma cidade, um estado e/ou uma nação, é o voto. O Título de Eleitor é o detergente mais potente que existe no processo de limpeza da política brasileira. Mas essa mudança não ocorrerá se continuarmos trocando o nosso voto por tijolo, areia, cimento, R$ 50,00 ou favores pessoais.
É possível fazer escolhas erradas? Claro que é! Mas na próxima eleição você pode trocar a sua opção de voto. E se errar novamente? Troque outra vez. Porém, nós viciamos a votar no mesmo, nós temos medo do novo, nós receamos as mudanças e, por isso, preferimos que as coisas mudem para continuar do jeito que elas estão.
A falência do transporte público, da Segurança, da Educação, da Saúde, a falta de qualificação profissional, a inversão de valores, e esse monte de gente corrupta e descompromissada que contamina com o nosso país... Tudo isso tem um único culpado: você e eu. O nosso egoísmo, o nosso individualismo, o nosso desinteresse, o nosso descompromisso e a nossa paixão pela ilegalidade... Fazem do Brasil, “um país de loucos”.
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